quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

LAMPREIAS LAMPEIRAS, POUCAS NO GANCHO BICHEIRO.

                                              Na imagem, cinco lampreeiros.

         Abriu (oficialmente) esta semana a pesca autorizada à lampreia a montante da ponte de Edgar Cardoso, no rio Lima, em Lanheses (Viana do Castelo), mas os expectantes pescadores (ainda) não encontram motivação bastante para se alegrarem. O peixe tarda em subir a corrente em modo de conquista do melhor território para desovar e são escassos os que terminam a longa caminhada na ponta afiada do gancho bicheiro no sítio da Passagem, no Parque Verde da freguesia. Ou porque tem chovido pouco e a corrente é fraca, talvez não seja ano favorável à espécie e vão chegar em menor número, ou, haja esperança, a invasão está a ser adiada segundo o calendário adequado natural da espécie.



  Porque barcos e apetrechos há muito foram vistoriados, licenciados e os impostos liquidados e o leito do rio decorado de ramos meticulosamente alinhados como engodo de descanso retemperador do longilíneo e viscoso ciclóstomo, horas sem conto à guarda do melhor bocado de atracagem da barquinha filha do água-arriba, a qualquer hora e a todo o tempo do dia, um olho no vizinho o outro no operador furtivo que possa atrapalhar e baralhar os cálculos, o pescador de lampreias espera e confia que a sorte, a todo o momento, irá mudar. Basta que a descida das águas em maré baixa ocorra em tempo de claridade, o leito de areia branca se torne hostil ao disfarce do "bicho" e a ponta afiada do gancho saca para bordo pelo bojo esbranquiçado o peixe esquivo estrebuchando em vão.

  A atividade é praticada nesta zona quase exclusivamente em regime de amadorismo, como hobby, paixão ou auto abastecimento e sem uso de redes, sem menosprezar a venda a restaurantes e particulares, sendo a maioria constituída por ex-emigrantes de novo radicados na terra da naturalidade após muitos anos de labuta no estrangeiro. A jusante da ponte acima referida a pesca é mais variada quanto ao exercício legal e tem regulamentação mais apertada.


     Atualmente não chegará a uma dezena o número de lampreeiros a pescar na zona dita da Passagem, sendo que são em maior quantidade os residentes na margem direita, em Lanheses. Manel Tuta, o mais persistente e com mais tempo de rio, só lá não dorme porque de casa vê o Lima, o Adriano Quintas, o Tone Rocha, o Coutinho, o Catulino, o Carlos Pescador, o Mélio, o Ilídio, o Costa; quem mais!?, o incontornável Caninhas, multi-funções, campeão imbatível, campeão dos campeões, ganha a todos juntos e ainda lhe sobram galões!

     Quem se adiantar na procura dos primeiros exemplares (e há sempre muitos...) desembolsará para além dos sessenta e alguns posinhos de euros. Os gostos, pagam-se caro e quem pode não faz contas. Mas, calma. Nos meses com "r" seguintes o peixe chega à classe dos ordenados e pensões mínimas e só quem não aprecia não prova. Hão de rir-se lá onde estiverem o Ti Gusto, o Ti Badalheiro, o Ti Rochinha, o Ti Carolino, os velhos resilientes da dura vida de barqueiro de antanho que venderiam se clientes houvesse, por 0,50€ em moeda atual, à porta, dez exemplares, ou mais, quando sardinhas eram a lagosta nos tempos de hoje.


      Eu divirto-me (como outros mirones) nas conversas travadas e na azáfama dos protagonistas da pesca. Apercebo-me da competição do "cada um por si e Deus por todos", das transações acordadas em rateio de circunstância, das estórias bem ou mal contadas sobre proventos e rentabilidades, invasão de territórios, traições e até cenas com bofetões, mas tenho consideração e estima pelo empenhamento dos lampreeiros nas artes, pelo que fazem que não é apenas divertimento mas também, não raro, sofrimento, coragem e abnegação, sujeitando-se à inclemência do tempo, à chuva e ao frio e ao perigo de submergirem na corrente numa manobra mal sucedida ou súbito desequilíbrio da frágil embarcação.










                                              O bicheiro


 
 
Fotos: doLethes
Remígio Costa
  

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