sábado, 23 de novembro de 2013

VELHOS OFÍCIOS EM TEMPOS NOVOS.

                  Já não há quem conserte um guarda-chuva, tape os buracos a um tacho com um pingo de chumbo ou coloque "gatos" para juntar os pedaços de um alguidar de barro vermelho quebrado ou peça de louça ou jarra de estimação, como era corrente em épocas não muito afastadas da que vivemos. A evolução da sociedade determinou novos hábitos e costumes na satisfação das necessidades correntes da vida prática das pessoas e o recurso a artesãos para reaproveitamento de alguns bens e serviços diminuiu, ou mesmo caiu em desuso, em razão da abundância da oferta e facilidade de acesso ao consumo. Usar e deitar fora e substituir um bem por outro mais atraente e cómodo foi, é, uma consequência do progressivo desaparecimento de algumas actividades que sobreviveram ao longo de séculos.



O Alfredo Arouca sucedeu ao seu pai no ofício de picheleiro e continua a ser a sua ocupação desde a infância. Ainda é muito procurado para o conserto de aparelhos usados na lavoura e reparação de canalizações.

                  Há anos que não se ouve nos lugares da nossa freguesia o característico som do pífaro do guarda-soleiro com o alforge onde trazia os instrumentos da profissão, -o alicate, a sovela de ponta curta e aguçada para perfurar, os "agrafos" ou "gatos" e unir as partes e o betume para os melhor segurar e disfarçar o arranjo, o pregão do amolador de facas e navalhas conduzindo a típica  banca de trabalho de uma única roda alta com a pequena de esmeril onde as lâminas despediam faíscas para apurar o fio, movida por uma correia ligada à roda maior e accionada ao pedal pelo amolador, do "homem do saco" que comprava farrapos e enchia de medo a criançada quando o viam ou os pais os ameaçavam de serem levados por ele se não se comportassem bem. Já não é fácil encontrar nestes tempos um picheleiro, um sapateiro, uma bordadeira-rendeira, uma costureira, ou, até um engraxador a quem se outrora se recorria para solucionar pequenos arranjos ou recuperar utensílios de uso doméstico ou pessoal.

A uma costureira de pequenos arranjos de roupas e serviços afins da Rua da Estrada da Igreja recorrem cada vez mais fregueses  interessados nestes serviços.




                  Apesar da raridade ser cada vez mais acentuada, há ainda quem permaneça fiel à profissão ou ofício que aprendeu em criança e recebeu como herança do seu progenitor, como é o caso do Alfredo Arouca (Janota) que assegura diariamente há muitos anos a abertura do seu estabelecimento de picheleiro no Largo Capitão Gaspar de Castro, de um sapateiro com banca doméstica no Outeiro, ou, tenha sido recuperada a de costureira numa loja de arranjos recentemente aberta no início da Rua da Estrada da Igreja. Resiste, também, embora já numa fase de esvaziamento de actividade, a fotografia "a lá minuta" do Zé Esteves, "o retratista"  mais antigo do Minho e quiçá de Portugal.



O Zé Retratista já não atende clientes em casa mas ainda frequenta algumas romarias onde tira fotografias "a la minuta" a preto e branco com a máquina de fole na barraca às riscas azuis e brancas, onde coloca uma tela de fundo com uma paisagem.


                 Nesta incursão pelo passado recente (cinco ou seis décadas é uma medida escassa na História da comunidade), outras figuras ou artes poderiam ser evocadas. Reavivo estas, recorrendo ás memórias do tempo em que nelas participei presencialmente, num exercício quase coloquial com as figuras aqui evocadas.

A seguir:

                        Um vídeo onde se vê um amolador a trabalhar usando um mecanismo já actualizado. Em baixo, um modelo mais aproximado da típica roda mais antiga.

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